Há mais de 50 anos, ele gravou seu primeiro disco, marco inicial da uma revolução do rock'n'roll. Elvis morreu em 1977 (a despeito do que acreditam seus fãs), mas continua influenciando os jovens do mundo todo
Em julho de 1954, o telefone tocou numa
casa simples da periferia de Memphis, Tennessee, no sul dos Estados
Unidos. Gladys, uma senhora na casa dos 40 anos, atendeu e ouviu a voz
de um homem, que se apresentou como Scotty e perguntou por seu filho.
"Elvis não está. Quer deixar recado?"
O Scotty era Scotty Moore, um guitarrista local de algum sucesso que procurava um cantor para sua banda e recebeu de um amigo, Sam Phillips, a dica sobre o tal Elvis.
Phillips, que tinha a fama de descobrir novos talentos, era dono de uma pequena gravadora em Memphis, a Sun Records, e oferecia a qualquer interessado a chance de gravar um disco por 4 dólares. Foi atrás dessa chance que em meados de 1953 Elvis Presley, então com 18 anos, entrou nos estúdios da Sun. Ele gravou duas faixas. Em janeiro do ano seguinte voltou e gravou mais duas. Sam não ficou muito impressionado com ele, mas anotou seu nome e telefone.
Na época, Elvis ganhava a vida dirigindo caminhão, mas não abandonara o sonho de ser cantor.
Elvis Aaron Presley nasceu em 8 de janeiro de 1935 em Tupelo, Mississípi. Sua mãe deu à luz gêmeos, mas o primeiro, Jesse, nasceu morto. Os Presley eram pobres. O pai, Vernon, trabalhou como leiteiro, carpinteiro e motorista e chegou a passar oito meses preso por falsificar cheques.
Elvis adorava música desde pequeno, gostava dos cultos da Igreja Pentecostal, onde sempre havia cantorias, e, aos 10 anos de idade, recebeu um prêmio num concurso de canto. Em 1946 ganhou sua primeira guitarra, presente de dona Gladys. Em 1948, a família se mudou para Memphis. Elvis foi matriculado numa escola para brancos, mas costumava freqüentar os bairros negros para ouvir seus bluesmen favoritos, como Furry Lewis e B.B. King. Passava as noites ouvindo no rádio música country, blues, gospel e até música clássica.
Quando Elvis respondeu ao telefonema de Scotty Moore, sabia que aquela poderia ser a chance pela qual esperava. Na sessão que hoje é considerada o marco zero do rock, Elvis Presley produziu um clássico: "That's All Right", versão de um antigo blues de Arthur Big Boy Crudup, que ele acelerou até torná-lo um autêntico rock'n'roll. Quando Sam Phillips ouviu aquilo não acreditou. "Era o que vinha buscando havia anos: um branco que pudesse cantar como um negro", afirma Peter Guralnick em sua biografia de "Elvis, Last Train to Memphis" ("O Último Trem para Memphis", inédito em português).
Preto no branco
A questão racial esteve presente na carreira de Elvis desde o início. Ele era um garoto branco apaixonado por música negra, fosse ela gospel, rhythm'n'blues ou country. Sua fama abriu espaço para um sem-número de roqueiros negros, como Little Richard, Chuck Berry e Bo Diddley. E ele nunca fez segredo sobre as origens de sua música: "Os negros vêm cantando dessa forma há muitos anos", dizia. "Mas ninguém prestava atenção neles, até que eu apareci. Eu aprendi tudo com eles".
Falar uma coisa dessas nos anos 50 era um ato de coragem. No sul dos Estados Unidos, as escolas eram segregadas. Havia lojas de brancos e lojas para pessoas de cor, emissoras de rádios de música branca e de música negra. Mas Elvis queria ser ouvido por todos.
E logo passou a ser. Dois dias depois da histórica gravação em Memphis, o disc-jóquei Dewey Phillips tocou "That's All Right" em seu programa Red Hot and Blue, e Elvis tornou-se uma sensação local. Vieram os primeiros shows e sua fama começou a se espalhar depois que ele descobriu o que fazia as meninas gritarem tanto. Após uma apresentação, perguntou a Scotty Moore: "Por que elas gritam tanto?" O guitarrista respondeu: "É sua perna", disse. "É o jeito como você mexe a perna".
Nos conservadores anos 50, o estilo explosivo e sensual de Elvis o diferenciava dos crooners bem-comportados, estáticos atrás dos microfones, entoando músicas de amor com suas vozes perfeitas. Elvis sacudia os quadris, grunhia e soltava longos suspiros no meio das músicas. Era uma revolução, pelo menos para o público branco, que não tinha visto gente como Little Richard e Chuck Berry em ação.
Em 1955, Elvis conheceu o coronel Tom Parker, um misterioso imigrante holandês que havia tentado a sorte no circo e em várias esferas do show business, até tornar-se um respeitado agente musical. Parker passou a gerenciar a carreira de Elvis e seu apurado tino para negócios ajudou a tornar o cantor um astro. Parker convenceu a gravadora RCA a comprar o passe do cantor à Sun, pela enorme (para a época) quantia de 40 mil dólares. A RCA era uma gravadora grande, porém pouco ousada. Os principais nomes de seu cast eram cantores românticos como Perry Como e Harry Belafonte. Elvis era um peixe fora da água na RCA.
Mas logo virou um tubarão. Em 1956 ele se tornou uma celebridade, gravando um sucesso atrás do outro, entre eles "Heartbreak Hotel", "Blue Suede Shoes", "Don't Be Cruel" e "Love me Tender". Estreou no cinema no filme "Love me Tender" e lançou seu primeiro LP, Elvis Presley. Na lista dos compactos mais vendidos do ano, ficou com os dois primeiros lugares, desbancando gente famosa como Frank Sinatra, Dean Martin e Pat Boone.
Rei do pop
O sucesso atraiu as críticas. Os mais conservadores desprezavam Elvis e consideravam sua música um lixo. Era difícil aceitar que um caipira rebolador pudesse vender mais discos que cantores consagrados como Sinatra e Belafonte. Em janeiro de 1957, Elvis apareceu no programa de TV de Ed Sullivan, um dos mais populares do país. Mas só quem esteve lá pôde vê-lo de corpo inteiro. A emissora, preocupada em não chocar os telespectadores, filmou Elvis só da cintura para cima. Na época, ele ganhou o apelido de Elvis, the Pelvis. Estava acesa a chama sob o caldeirão do rock, onde ferveria toda uma geração de jovens. Ninguém mais poderia detê-los.
Nem o exército. Em 1958, Elvis foi convocado e, numa jogada publicitária, Parker incentivou-o a ir. Antes, porém, fez com que o cantor deixasse gravados vários compactos. Parker recusou qualquer tipo de tratamento especial a Elvis, com a certeza de que isso seria ótimo para a imagem do cantor. E foi.
Depois de passar pelo treinamento no Texas, Elvis foi para uma base militar na Alemanha, onde ficou 18 meses. Lá, cumpriu funções normais dos soldados, como fazer exercícios e montar guarda nos portões da base. Durante esse tempo, não cantou em público, mas participou de dezenas de sessões de fotos para mostrar como era sua vida de militar. No auge da Guerra Fria, Elvis foi o melhor garoto-propaganda com que o exército americano poderia ter sonhado. O afastamento não diminuiu o interesse por suas músicas, pelo contrário. Mesmo com ele ausente, a RCA lançou vários compactos de sucesso, como "Wear my Ring Around your Neck", "Hard Headed Woman", "One Night" e "A Big Hunk o' Love".
No quartel, Elvis conheceu as drogas. Introduzido por um sargento que recomendava pílulas de anfetaminas aos soldados para mantê-los atentos e eficientes nos exercícios, ele iniciou uma longa dependência química, que viria a ter resultados trágicos. No final de sua temporada na Europa, Elvis conheceu a adolescente Priscila Beaulieu, com quem iniciou um romance.
Em março de 1960, Elvis deu baixa. A volta para casa foi problemática. E triste. Sem a mãe por perto (dona Gladys morrera em 1958), sua vida entrou numa espiral descendente.
Profissionalmente, sua carreira passava por uma grande mudança. Saem as excursões e shows, entram os filmes. Durante toda a década, a única maneira de os fãs verem seu ídolo era comprando ingressos para o cinema. Mas mesmo longe dos palcos, os discos de Elvis quase todos gravações da trilha sonora dos filmes continuavam vendendo bem, embora a concorrência estivesse muito mais forte. O rock já dava pinta de que viraria uma fábrica de ídolos, com o surgimento de grupos como os Beatles e os Rolling Stones. Elvis parecia descontente com a direção de sua carreira, e reclamava com o coronel Parker da qualidade dos filmes que estava fazendo, pérolas como "O Seresterio de Acapulco", "Meu Tesouro É Você" e "Garotas, Garotas e Garotas". O ritmo de trabalho era massacrante: entre 1956 e 1969, ele estrelou nada menos que 31 longas-metragens.
Em casa, a coisa ia ainda pior. Elvis não fazia segredo do vício em anfetaminas e começou a recomendar as pílulas para amigos e músicos de sua banda. Cada vez mais rico e drogado, Elvis aos poucos foi se tornando um recluso em sua mansão, Graceland. Lá, cercou-se de um grupo de empregados e amigos, que ficou conhecido como a Máfia de Memphis. Em 1961, Priscila se mudou para Graceland. Seis anos depois, eles se casariam e teriam Lisa-Marie, única filha do casal.
Elvis estava estranhamente obcecado. Colecionava armas e distintivos policiais. Passou a dar declarações de que sua missão era ajudar os Estados Unidos a acabar com o risco das drogas e do comunismo e, numa cena hoje lendária, visitou a Casa Branca para pedir ao presidente Richard Nixon que lhe outorgasse uma credencial do FBI. A foto de Nixon e Elvis apertando as mãos é uma das imagens mais bizarras e emblemáticas dos anos 70. Elvis, o antigo rebelde, cumprimentando o homem que, provavelmente, estava entre os que chamavam sua música de lixo, nos anos 50. Foi o início do fim de Elvis Presley.
A década de 70 foi um pesadelo interminável para Elvis. Ele havia se tornado um prisioneiro em Graceland, tomando anfetaminas, barbitúricos e tranqüilizantes e sendo vigiado por guarda-costas brutamontes. Embora suas turnês em Las Vegas batessem recordes de arrecadação, sua música caiu de qualidade. Ele engordou muito e chegou a ter um colapso antes de um show na Flórida, que teve de ser cancelado.
No fim de 1971, Priscila o abandonou, levando a filha Lisa-Marie. Amigos do cantor disseram que isso era o que faltava para o colapso emocional e físico de Elvis. Nos cinco anos seguintes, os dias alegres tornaram-se cada vez mais raros. Embora a adoração do público nunca tivesse diminuído e os shows estivessem sempre lotados (o especial de TV "Aloha from Hawaii" foi visto por 1 bilhão de pessoas), Elvis vivia infeliz. Sua saúde estava se deteriorando e as internações em clínicas de reabilitação e hospitais tornaram-se rotina.
A curta vida de Elvis Presley chegou ao fim em 16 de agosto de 1977. Por volta de 13h30, sua namorada, Ginger Alden, encontrou-o sem vida, deitado no chão do banheiro, em sua mansão. O rei estava morto.
(matéria publicada na revista Aventuras na História, edição 12, agosto de 2004. Autor: André Barcinski)
O Scotty era Scotty Moore, um guitarrista local de algum sucesso que procurava um cantor para sua banda e recebeu de um amigo, Sam Phillips, a dica sobre o tal Elvis.
Phillips, que tinha a fama de descobrir novos talentos, era dono de uma pequena gravadora em Memphis, a Sun Records, e oferecia a qualquer interessado a chance de gravar um disco por 4 dólares. Foi atrás dessa chance que em meados de 1953 Elvis Presley, então com 18 anos, entrou nos estúdios da Sun. Ele gravou duas faixas. Em janeiro do ano seguinte voltou e gravou mais duas. Sam não ficou muito impressionado com ele, mas anotou seu nome e telefone.
Na época, Elvis ganhava a vida dirigindo caminhão, mas não abandonara o sonho de ser cantor.
Elvis Aaron Presley nasceu em 8 de janeiro de 1935 em Tupelo, Mississípi. Sua mãe deu à luz gêmeos, mas o primeiro, Jesse, nasceu morto. Os Presley eram pobres. O pai, Vernon, trabalhou como leiteiro, carpinteiro e motorista e chegou a passar oito meses preso por falsificar cheques.
Elvis adorava música desde pequeno, gostava dos cultos da Igreja Pentecostal, onde sempre havia cantorias, e, aos 10 anos de idade, recebeu um prêmio num concurso de canto. Em 1946 ganhou sua primeira guitarra, presente de dona Gladys. Em 1948, a família se mudou para Memphis. Elvis foi matriculado numa escola para brancos, mas costumava freqüentar os bairros negros para ouvir seus bluesmen favoritos, como Furry Lewis e B.B. King. Passava as noites ouvindo no rádio música country, blues, gospel e até música clássica.
Quando Elvis respondeu ao telefonema de Scotty Moore, sabia que aquela poderia ser a chance pela qual esperava. Na sessão que hoje é considerada o marco zero do rock, Elvis Presley produziu um clássico: "That's All Right", versão de um antigo blues de Arthur Big Boy Crudup, que ele acelerou até torná-lo um autêntico rock'n'roll. Quando Sam Phillips ouviu aquilo não acreditou. "Era o que vinha buscando havia anos: um branco que pudesse cantar como um negro", afirma Peter Guralnick em sua biografia de "Elvis, Last Train to Memphis" ("O Último Trem para Memphis", inédito em português).
Preto no branco
A questão racial esteve presente na carreira de Elvis desde o início. Ele era um garoto branco apaixonado por música negra, fosse ela gospel, rhythm'n'blues ou country. Sua fama abriu espaço para um sem-número de roqueiros negros, como Little Richard, Chuck Berry e Bo Diddley. E ele nunca fez segredo sobre as origens de sua música: "Os negros vêm cantando dessa forma há muitos anos", dizia. "Mas ninguém prestava atenção neles, até que eu apareci. Eu aprendi tudo com eles".
Falar uma coisa dessas nos anos 50 era um ato de coragem. No sul dos Estados Unidos, as escolas eram segregadas. Havia lojas de brancos e lojas para pessoas de cor, emissoras de rádios de música branca e de música negra. Mas Elvis queria ser ouvido por todos.
E logo passou a ser. Dois dias depois da histórica gravação em Memphis, o disc-jóquei Dewey Phillips tocou "That's All Right" em seu programa Red Hot and Blue, e Elvis tornou-se uma sensação local. Vieram os primeiros shows e sua fama começou a se espalhar depois que ele descobriu o que fazia as meninas gritarem tanto. Após uma apresentação, perguntou a Scotty Moore: "Por que elas gritam tanto?" O guitarrista respondeu: "É sua perna", disse. "É o jeito como você mexe a perna".
Nos conservadores anos 50, o estilo explosivo e sensual de Elvis o diferenciava dos crooners bem-comportados, estáticos atrás dos microfones, entoando músicas de amor com suas vozes perfeitas. Elvis sacudia os quadris, grunhia e soltava longos suspiros no meio das músicas. Era uma revolução, pelo menos para o público branco, que não tinha visto gente como Little Richard e Chuck Berry em ação.
Em 1955, Elvis conheceu o coronel Tom Parker, um misterioso imigrante holandês que havia tentado a sorte no circo e em várias esferas do show business, até tornar-se um respeitado agente musical. Parker passou a gerenciar a carreira de Elvis e seu apurado tino para negócios ajudou a tornar o cantor um astro. Parker convenceu a gravadora RCA a comprar o passe do cantor à Sun, pela enorme (para a época) quantia de 40 mil dólares. A RCA era uma gravadora grande, porém pouco ousada. Os principais nomes de seu cast eram cantores românticos como Perry Como e Harry Belafonte. Elvis era um peixe fora da água na RCA.
Mas logo virou um tubarão. Em 1956 ele se tornou uma celebridade, gravando um sucesso atrás do outro, entre eles "Heartbreak Hotel", "Blue Suede Shoes", "Don't Be Cruel" e "Love me Tender". Estreou no cinema no filme "Love me Tender" e lançou seu primeiro LP, Elvis Presley. Na lista dos compactos mais vendidos do ano, ficou com os dois primeiros lugares, desbancando gente famosa como Frank Sinatra, Dean Martin e Pat Boone.
Rei do pop
O sucesso atraiu as críticas. Os mais conservadores desprezavam Elvis e consideravam sua música um lixo. Era difícil aceitar que um caipira rebolador pudesse vender mais discos que cantores consagrados como Sinatra e Belafonte. Em janeiro de 1957, Elvis apareceu no programa de TV de Ed Sullivan, um dos mais populares do país. Mas só quem esteve lá pôde vê-lo de corpo inteiro. A emissora, preocupada em não chocar os telespectadores, filmou Elvis só da cintura para cima. Na época, ele ganhou o apelido de Elvis, the Pelvis. Estava acesa a chama sob o caldeirão do rock, onde ferveria toda uma geração de jovens. Ninguém mais poderia detê-los.
Nem o exército. Em 1958, Elvis foi convocado e, numa jogada publicitária, Parker incentivou-o a ir. Antes, porém, fez com que o cantor deixasse gravados vários compactos. Parker recusou qualquer tipo de tratamento especial a Elvis, com a certeza de que isso seria ótimo para a imagem do cantor. E foi.
Depois de passar pelo treinamento no Texas, Elvis foi para uma base militar na Alemanha, onde ficou 18 meses. Lá, cumpriu funções normais dos soldados, como fazer exercícios e montar guarda nos portões da base. Durante esse tempo, não cantou em público, mas participou de dezenas de sessões de fotos para mostrar como era sua vida de militar. No auge da Guerra Fria, Elvis foi o melhor garoto-propaganda com que o exército americano poderia ter sonhado. O afastamento não diminuiu o interesse por suas músicas, pelo contrário. Mesmo com ele ausente, a RCA lançou vários compactos de sucesso, como "Wear my Ring Around your Neck", "Hard Headed Woman", "One Night" e "A Big Hunk o' Love".
No quartel, Elvis conheceu as drogas. Introduzido por um sargento que recomendava pílulas de anfetaminas aos soldados para mantê-los atentos e eficientes nos exercícios, ele iniciou uma longa dependência química, que viria a ter resultados trágicos. No final de sua temporada na Europa, Elvis conheceu a adolescente Priscila Beaulieu, com quem iniciou um romance.
Em março de 1960, Elvis deu baixa. A volta para casa foi problemática. E triste. Sem a mãe por perto (dona Gladys morrera em 1958), sua vida entrou numa espiral descendente.
Profissionalmente, sua carreira passava por uma grande mudança. Saem as excursões e shows, entram os filmes. Durante toda a década, a única maneira de os fãs verem seu ídolo era comprando ingressos para o cinema. Mas mesmo longe dos palcos, os discos de Elvis quase todos gravações da trilha sonora dos filmes continuavam vendendo bem, embora a concorrência estivesse muito mais forte. O rock já dava pinta de que viraria uma fábrica de ídolos, com o surgimento de grupos como os Beatles e os Rolling Stones. Elvis parecia descontente com a direção de sua carreira, e reclamava com o coronel Parker da qualidade dos filmes que estava fazendo, pérolas como "O Seresterio de Acapulco", "Meu Tesouro É Você" e "Garotas, Garotas e Garotas". O ritmo de trabalho era massacrante: entre 1956 e 1969, ele estrelou nada menos que 31 longas-metragens.
Em casa, a coisa ia ainda pior. Elvis não fazia segredo do vício em anfetaminas e começou a recomendar as pílulas para amigos e músicos de sua banda. Cada vez mais rico e drogado, Elvis aos poucos foi se tornando um recluso em sua mansão, Graceland. Lá, cercou-se de um grupo de empregados e amigos, que ficou conhecido como a Máfia de Memphis. Em 1961, Priscila se mudou para Graceland. Seis anos depois, eles se casariam e teriam Lisa-Marie, única filha do casal.
Elvis estava estranhamente obcecado. Colecionava armas e distintivos policiais. Passou a dar declarações de que sua missão era ajudar os Estados Unidos a acabar com o risco das drogas e do comunismo e, numa cena hoje lendária, visitou a Casa Branca para pedir ao presidente Richard Nixon que lhe outorgasse uma credencial do FBI. A foto de Nixon e Elvis apertando as mãos é uma das imagens mais bizarras e emblemáticas dos anos 70. Elvis, o antigo rebelde, cumprimentando o homem que, provavelmente, estava entre os que chamavam sua música de lixo, nos anos 50. Foi o início do fim de Elvis Presley.
A década de 70 foi um pesadelo interminável para Elvis. Ele havia se tornado um prisioneiro em Graceland, tomando anfetaminas, barbitúricos e tranqüilizantes e sendo vigiado por guarda-costas brutamontes. Embora suas turnês em Las Vegas batessem recordes de arrecadação, sua música caiu de qualidade. Ele engordou muito e chegou a ter um colapso antes de um show na Flórida, que teve de ser cancelado.
No fim de 1971, Priscila o abandonou, levando a filha Lisa-Marie. Amigos do cantor disseram que isso era o que faltava para o colapso emocional e físico de Elvis. Nos cinco anos seguintes, os dias alegres tornaram-se cada vez mais raros. Embora a adoração do público nunca tivesse diminuído e os shows estivessem sempre lotados (o especial de TV "Aloha from Hawaii" foi visto por 1 bilhão de pessoas), Elvis vivia infeliz. Sua saúde estava se deteriorando e as internações em clínicas de reabilitação e hospitais tornaram-se rotina.
A curta vida de Elvis Presley chegou ao fim em 16 de agosto de 1977. Por volta de 13h30, sua namorada, Ginger Alden, encontrou-o sem vida, deitado no chão do banheiro, em sua mansão. O rei estava morto.
(matéria publicada na revista Aventuras na História, edição 12, agosto de 2004. Autor: André Barcinski)